Sempre dou bastante crédito aos ditos populares. Mesmo aqueles que num primeiro momento parecem sem sentido, ou quando foram cunhados em uma época onde não era possível sua comprovação científica, eles carregam consigo uma razão indiscutível.
Os recentes escândalos envolvendo grandes conglomerados de empresas do ramo alimentício vem se somar a outros que, nos últimos anos, tem nos deixado bastante alerta quanto àquilo que ingerimos, e principalmente em quem confiar quando o assunto é a nutrição através da alimentação.
A grande questão à qual devemos estar atentos é o fato de que não somos apenas homens e mulheres. Somos na verdade um grande ecossistema onde coexistem diversos outros seres vivos que compõem nosso microbioma. Assim, o equilíbrio do nosso organismo passa pelo equilíbrio desse ecossistema.
Em meu consultório são diversos casos, todos os meses, de pacientes acusando problemas causados exclusivamente por uma alimentação inadequada.
Passamos de endocrinologistas, nutrólogos, cardiologistas, e outras especialidades para peritos em intestino, sabemos que toda doença tem seu iniciou e/ou uma forte relação com o intestino e seu integridade, recentemente a revista EXAME da ed. Abril publicou em uma de suas matérias de dezembro que o Parkinson se inicia no intestino. Sim, mal de Parkinson pode iniciar-se no intestino e não no cérebro, e a microbiota intestinal está envolvida diretamente no desenvolvimento não só desta doença como de outras como espondilite anquilosante, artrite reumatoide e hipotireoidismo.
Este estudo revelou que 10 anos de todos os pacientes apresentarem o mal de Parkinson, eles já apresentavam a disbiose. São inúmeros os indícios da relação direta entre a composição da flora intestinal e a dieta de cada um. Estudo publicado na revista Science, em 2011, elaborado por geneticistas na Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, já revelaram essa relação. Estudantes foram divididos em dois grupos, que tiveram sua dieta monitora.
Durante dez dias, aqueles com tendências mais carnívoras em sua alimentação foram submetidos a uma dieta vegetariana. Por outro lado, o segundo grupo teve essa equação invertida. Já no primeiro dia observou-se mudança na composição da flora intestinal apenas a partir da alteração da rotina alimentar. Ao final do estudo, constatou-se mudança sensível, sem contudo alterar a bactéria dominante no contexto inicial.
Isso significa que, de fato, somos literalmente o que comemos. Caso sua dieta seja rica em proteínas e gordura de origem animal e laticínios, há uma enorme possibilidade de seu intestino ter como bactéria dominante a Bacteroides. No caso dos vegetarianos, quem domina é a Prevotella. Uma terceira bactéria que se faz presente em nossa flora é a Ruminococcus, destacando-se na flora intestinal daqueles que tem por hábito o consumo mais elevado de álcool e gorduras poli-insaturadas (presente em peixes de água fria).
Feita esta introdução, quero me ater agora a outro termo, que vem sendo amplamente difundido e discutido em congressos: a disbiose, que se refere ao
desequilíbrio entre os diversos tipos de organismos que habitam nossa flora intestinal.
Evidências tem apontado para a influência direta entre a disbiose e a forma à qual o organismo armazena gordura, equilibra os níveis de glicose no sangue e responde a hormônios que nos fazem sentir fome ou saciedade. Pense em quantas pessoas você conhece que não tem queixas nesses quesitos. Inúmeras, correto?
Entende-se que a dieta é relatada como a principal influência envolvida entre a microbiota e a obesidade. Por isso não devemos apenas avaliar as calorias da dieta do paciente para definir como montar seu plano alimentar. Antes, temos de levar em consideração quais consequências, para sua flora intestinal, esse hábitos alimentares já trouxeram até aquele momento. Escolhas equivocadas alteram o microbioma intestinal, fazendo prevalecer bactérias patogênicas e, num segundo momento, podendo causar obesidade. A associação da obesidade com o desequilíbrio da flora intestinal pode ser ainda mais estreita quando falamos de diabetes, outra condição de origem multifatorial.
A relação entre diabetes e microbioma pode, inclusive, trazer respostas para o fator obesidade, visto que pacientes com diabetes também apresentam uma flora intestinal bastante alterada. Uma das explicações dadas é com relação aos lipopolissacarídeos presentes nas bactérias patogênicas. Essas substâncias potencialmente tóxicas são capazes de atravessar a membrana intestinal levando ao aumento da resistência à insulina.
Uma vez concluída a relação entre disbiose e obesidade, pesquisadores trabalham agora em estudos que relacionem alterações do microbioma ao uso de probióticos, sendo assim possível regular este equilíbrio de forma mais rápida e precisa. Uma bela maneira de trabalharmos o equilíbrio do nosso ecossistema de dentro para fora.
Avanços no estudo da disbiose lançam luz sobre outro ponto: as bactérias presentes em nossa flora intestinal exercem algum tipo de influência sobre nosso paladar? Ou será que nosso gosto pessoal define o que consumimos e, por consequência, como será nossa flora? Ainda há muito o que se entender sobre isso, mas há fortes indícios que a primeira opção deva de fato ser considerada. Por isso, é importante que mudemos nossos hábitos de vida, e não apenas soframos para mudar a alimentação. No longo prazo, podemos organizar nosso microbioma a fim de que ele esteja apto para viver plenamente no estilo de vida ao qual você se propuser.
A importância da conservação e manutenção da flora intestinal está no fato de que ela contribui fortemente para a integridade da mucosa intestinal, favorecendo a absorção de nutrientes e reforçando a resistência contra a colonização de germes patogénicos.
Fica a reflexão, quantos de nós já fomos impactados por produtos que vieram ao mercado para apresentar uma proposta de que é “bom para saúde”, “enriquecido em fibras”, “contém vitaminas e minerais”? Basta irmos ao supermercado e varias ofertas estarão nas prateleiras a frente dos óleos, margarina que faz bem pro coração, yogurte bom para o intestino, rico em vitamina C para o seu filho, pães sem glúten e leitinho sem lactose.
Está é e será sempre a missão da indústria alimentícia, e o pior é que além do publico em geral de consumidores existem também os colegas médicos,
nutricionistas e outros que ludibriados prescrevem e mal orientam seus pacientes e clientes, sem falar na TV onde passa-se uma grande gama de comercial fajuto sem fundamentos e ciência na divulgação de produtos tóxicos e inflamatórios.
Prazer, saciedade e vontade não são princípios a que me apeteço, vejo muitos pacientes dizendo que não tem graça fazer dieta, que não tem graça viver sem comer, que a vida sem comida não tem valor?
Pois bem, para eles eu digo, “A felicidade não deve estar condicionada a comida ou ao que for, mas sim nas nossas vidas, no nosso estado de espirito e nas cias que sentam a mesa conosco”.
Nossa cura, nossa “graça” de vida está intimamente ligada àquilo que ingerimos e absorvemos já dizia meu amigo Dr. Barakat.
Deixemos que nossos alimentos sejam nossos remédios e que nossos remédios sejam nossos alimentos.
Artigo do Dr. José Roberto de Melo Filho